“Kip’ing” disruptive!

SPIN ou São Paulo Innovation Summit é o que melhor reproduz o ecossistema de inovação: empresas, investidores, negociadores e empresários do Brasil e Israel, reunidos com o propósito de estimular e capitanear negócios em prol do nosso desenvolvimento tecnológico.

“E foi tudo intenso e veloz…” (2) como o impacto da #inovaçãodisruptuva sobre a tríade empreendedores-startups-organizações, num Brasil que Kip convenciona chamar de “o país do status quo“:

Quando alimentamos o status quo, acabamos fazendo parte dele. O Brasil tem dificuldade de romper com isso. Falta o pensamento contraintuitivo capaz de acabar com as ortodoxias: olhe para o que está fazendo a organização X ou a aceleradora Y e faça o oposto! Precisamos confiar menos no que deu certo e olhar para outros indicadores de sucesso, mas não dá para medir tendências: mas dá para ter novos insights.

Antes de ser especialista em estratégia e inovação, Kip é um físico cada vez mais interessado na História do Brasil. E por esta razão, ele se dedica a reverter a ideia de teoria como algo abstrato e pouco acessível, em algo sem o qual não há como se planejar o futuro.

É desta forma que ele nos aproxima cada vez mais da Teoria da Disruptive Innovation, cuja tradução “ao pé da letra” não cabe – até porque “disrupção” não sugere romper com a trilogia produto-processo-mercado, mas revela a maneira como a inovação passa a acontecer dentro e além disto.

Ao invés de tentar traduzir o termo disruptive, eu sugeriria ressignificá-lo no contexto inovativo como algo que “Quebrou, não tem mais jeito/Agora descubra de verdade o que você ama…/Que tudo pode ser seu!” (3) . Quando alguém tenta extrair uma resposta do Kip, ele provoca: “Quer saber o que significa disruptive? Então comece a ser um!”.

Para ele, isto só será possível a partir da noção de pertencimento e intangibilidade. Garland critica o fato de todos estarmos reclamando do governo, dos escândalos de corrupção na política e etc., como se não fizéssemos parte disto.

O sujeito “disruptive” não é passivo. Ele “pega, chuta, muda… barbariza, acende o crepúsculo” (4) , enquanto a maioria está lá parada no muro das lamentações.

O Brasil está em busca de um novo modelo não somente de startups, mas de economia. Por isso eu venho estudando cada vez mais História e volto a dizer que este é o país do status quo. Não é um país de leis. Mas por aqui, quando se reclama de algo regulatório, preste atenção, não é por conta da lei, mas dos valores. O Brasil é um país de valores. Para acabar com o status quo é preciso pensar diferente e fazer diferente, afirma o consultor.

Para ilustrar isto, ele nos remeteu ao ano de 2011, quando a Anatel quebrou uma barreira gigantesca nas Telecomunicações – um esforço que resultou em nada, simplesmente porque num desses “julgamentos de valor” concluiu-se que não seria bom para o e-commerce.

Kip reconhece o quão difícil é fazer diferença, especialmente quando se olha para grandes startups e se depara com a velha-guarda de ex-corporativos de sucesso.

Inovação disruptiva ou disrupção inovativa?

A crítica de Kip se refere ao risco de algumas startups carregarem o DNA do seu ancestral “X-corporate”. Antes mesmo de Clayton Christensen apresentar sua Teoria da Inovação Disruptiva, em 1989 já havia a ideia de Inovação Radical e Incremental (a inovação com “I” maiúsculo).

“Mas os momentos felizes não estão escondidos nem no passado e nem no futuro” (5). Estão na capacidade de mover de forma perturbadora as placas tectônicas do mercado ao permitir, por exemplo, que as classes D e E tenham acesso ao que historicamente era privilégio de gente com muito dinheiro ou muito “jeitinho”. O telefone celular é uma das mais notáveis inovações disruptivas (ou seria uma disrupção inovativa?).

Se você quer fazer diferente, então olhe para quem fracassou e pare de olhar para BigData ou de se fixar num algorítimo.

Kip é da opinião que precisamos nos apartar da teoria comum para nos aproximar da Grand Theory: aquela que não está baseada em hipóteses, tampouco agrega dados e, sim, na abstração orquestrada de conceitos para muito além da compreensão social.

Assimetria da Motivação

Assim nascem as Organizações Exponenciais (ExO): dez vezes melhores, mais rápidas e mais baratas, graças aos princípios da coparticipação e do uso da inteligência coletiva de clientes e potenciais consumidores. Organizações que ousam abocanhar mercados que ninguém quer porque não parecem lucrativos. Bingo!

“O conceito de Inovação, hoje, se assemelha ao da Qualidade, ontem”, disse Kip, alegando que antes a “qualidade” era um atributo pessoal. A Revolução da Qualidade, segundo ele, aconteceu depois que uma bomba explodiu o Japão:

Com as escassez de recursos, não dava para arriscar – se mil carros estavam sendo fabricados, todos tinham que ter qualidade. Mais do que isso: o chão de fábrica tinha que ter qualidade; as faxineiras tinham que ter qualidade.

A coisa não é lá muito diferente hoje. Talvez por isso Kip considere um erro que se crie uma área de inovação dentro de uma empresa, quando ela existe na gente. Ele acredita que para haver inovação é preciso proporcionar esta mesma qualidade à vida do maior número de pessoas!

Watson e os “paraísos artificiais” (6)

Na Inteligência Artificial a gente tira uma função do humano e dá para uma máquina. Mas o que o ser humano faz bem que a máquina não faz? A mudança para a Computação Cognitiva pressupõe que o ser humano estará otimizado para fazer outras coisas.

Significa que, ao contrário do que vem causando grande inquietação e medo, as máquinas não vão roubar o trabalho do homem, mas aproveitá-lo no que ele tem de melhor!

Kip Garland fez questão de encerrar sua semeadura da Disruptive Innovation no SPIN2017, levando-nos a repensar quem somos, do que somos feitos e o que temos de melhor. Talvez isso comece a germinar novos processos internos e faça brotar em nós a crença na própria capacidade de resolver problemas muito complexos usando nossa própria suspeição e intuição.

Ao longo desse artigo (que materializa e expande minha gratidão pelo impagável convite) plantei pedaços das canções do “Imortal” Antonio Cicero e agora o encerro dizendo ao amigo: Kip, “você me abre seus braços e a gente faz um país!” 

Boa safra!

Notas:

(1) “Para sempre e nem mais um dia” (1984).

(2) “Deixe estar” (1998).

(3) “Pra começar” (1986).

(4) “Acende o Crepúsculo” (1985).

(5) “À francesa” (1989).

(6) A Grande Teoria é um termo cunhado pelo sociólogo americano C. Wright Mills na Imaginação Sociológica.

(7) “Fullgas” (1984).